quarta-feira, 12 de outubro de 2016

[COLUNA: FIO DENTAL, CIGARROS E TRAGOS] Caprichoso

Fio Dental, Cigarros e Tragos.Coluna
Por LOPES, Marianna
Carioca, 23.
Escritora.

CAPRICHOSO


ACENDO OUTRO CIGARRO...
... Solto a fumaça. E ela desaparece na noite quente de outro verão qualquer. Os idiotas soltam fogos e gritam, bêbados, na rua. As buzinas ecoam alto em meus ouvidos, entre os prédios, dobrando a esquina. Outro trago. Olho para o cinzeiro em cima do mármore do cercado da varanda do quarto de hotel caro. Deve ser o décimo. O centésimo. Não importa. O que vai me matar está deitado na cama entre sangue e lençóis brancos de algodão. Tem um perfume gostoso de flor e adora um pau entre as coxas para quicar. As algemas ainda estão no chão junto as roupas rasgadas e amassadas. Meu corpo ainda estremece com sensação daquele amor primitivo, selvagem... doentio.
Que tipo de idiota eu sou? Um tipo ridículo de suicida moderno. Que se vicia em curvas e dedos que se afundam em minhas costas e me sangram. Curvas sinuosas e proibidas. Que deseja o que não pode ter e prova, assim, do velho e bom fruto proibido. Sem pudor, sem vergonha. Ao invés de dar logo um tiro na própria cabeça.
Mas o sangue escorrendo escorrendo pelas feridas que suas unhas me causaram são a única maneira de não deixar que a loucura anule todas aquelas lembranças. Ela era real. Nós éramos reais. Eu não a inventei ou sonhei. Nem toda aquela nossa história. E a dor não me permitia acreditar que tudo não passou de mera invenção. 
Minha loucura não poderia ter chegado a esse ponto antes mesmo que tivesse percebido o quanto sou insano. Tive seus cabelos vermelhos e ferozes entre meus dedos. Vi suas lágrimas escorrendo enquanto fodia sua boca suja e a saliva lhe escorria pelo canto dos lábios. Molhando seios, barriga e coxas. Ela, ali, ajoelhada e presa aos meus caprichos. Bem onde eu queria que ela estivesse... aos meus pés.


Até a próxima quarta.
Local: Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Related Posts:

0 comentários:

Postar um comentário