sereias de plutão
marina ventura *
viviam então enclausuradas
elas, todas elas, até porque o mar é feito de gelo e gases muitos gases entre o
desconhecido, o poroso e o certo naquela dimensão.
a órbita do planeta,
sim, rasgava pelos anos-luz e todo seu trajeto fazia utópica a primavera
naquela astro.
todo o tempo, a quem
sabemos, era de inverno. frio, escuro e gelo: sem neve, sem aurora. imagine
este habitat em única estação.
mas haviam as
sereias. meninas. carecas, pálidas e de olhos pretos inteiriços. peles
enregeladas como uma certeza de morte. possível é perseguir todas as suas veias
em um sangue violeta e fino. belas até na testa, reluzente, e bustos de prata.
caudas familiares a nós, em escamas vitrais e de poucas cores para deslizar
sobre oceanos de gás e pedra.
contudo, tínhamos e
temos estas sereias prisioneiras em uma bolha estrangeira que há trilhões e
quinqualhões de anos penetrou pela espécie de ozônio que lá existe e ainda o
mar em tempo de onda se permitiu penetrar esta transeunte hipergalática. sem
pele uma bolha é um expiro de ar. em água, uma bolha para que nossos olhos se
acostumem.
de curiosidades é que
se fez a natureza. com a incomum presença naquele pequeno país de mar plutônico
as sereias, um grupo de umas cinco, arriscaram-se a venerar àquela alienígena.
suntuosa ela flutuava pelos mares porque a água de lá permite o que as nossas
não permitem. em doses de brincadeiras as sereias, elas mesmas, iniciaram
investigação. Xcy, a atrevida, com delicadeza a bolha tocou para sentir a sutileza
de nosso ar. Bjrr, a destemida, um golpe ousou e para sua surpresa a bolha
permaneceu intacta. porém seu braço dentro da bolha estava. Hhhu, a observadora
concluiu que era possível vida no interior da bolha. o nome das outras duas não
convém saber. indescritíveis.
penetraram todas.
e no interior daquela
ilusão hiperbólica as sereias de plutão sequer notaram o tempo que se passava e
que o planetoide em pouco ultrapassaria a curva da distância se poria longe do
sol; o que faria, conclui-se, o congelamento total de mares, rios e lagos em
puros gelos.
quando o mar congela,
sereia vive na superfície hibernando até que a curva distante se finde.
salvas pela bolha,
como gente.
* Marina Ventura é heterônimo de Edhson J. Brandão quando as ideias alagam.
* *
Orações A Saturno é o templo da linguagem pragmática sem a moral do mundo que o perturba. É um alento. Algo que eclode. Não sei. Um out de si no tempo da palavra. É sábado, todo sábado. São rezas para deus-palavra. E isso é tudo, quando não há nada.
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