Meu Nome Vilma
Edhson J. Brandão
eu
lhe faria um doce agrado se aqui me estivesse mas de poeira que hoje sou e de
lembrança que em você, estou, restam-se então as delícias do meu tempo que já
foi. carregue então as flores em aventais para que eu me sinta próxima a você e
depois deposite-as no mais calmo abraço e veja que as mãos, hoje suas, estão
quentes como outrora. eu me tinha, perdão, não sabia. mas deixo, precioso o meu
colo entre os meios de cada dia.
*
Quem sabe dos mundos, reza. Pedaço de
vela afoita acendida próxima aos pés de santa. Aparecida. De fé é feita a fuga
para um sofrimento que não se nega. Tênue. Ele se dissipa entre as veias e cada
músculo grita um murmúrio apagado porque corpo é denúncia. Vê então que mesmo a
procissão postergada até os pés de Maria foi remédio pouco para o ataque que
lhe depreciara.
É mulher na cama. Quarenta e dois. Cabelos
crespos no corte curto da moda em fim de anos noventa. Vida muita, vida pouca.
Logo mais se acaba aquilo que tanto se deseja. Ninguém deseja morrer para ver o
que se têm. Como se sofre? Tosses, dores, café e manjericão. Os santos não
fogem porque estão presos nas armaduras de gesso. Rezam as crianças noutro
quarto, ajoelhadas e crentes, com o terço na mão. O livrinho verde conduz o
culto. Eles querem, precisam, clamam. Não sabem se pedem o que pedem. Cura e
libertação custam caro e muitas das vezes não surgem como desejamos. Então
venha. Clamam às rainhas. Nossa Senhora das Dores. Rogam. Um benzimento
infante. Qual poder tem as crianças diante dos espíritos santos? Passam boleta
por boleta. Santíssimo rosário em contas de plástico. Lembrança de Aparecida.
Elas rezam.
Os adultos na cozinha enquanto a
enferma dorme ensaiam o luto adiado, logo mais terão compromisso. Olheiras,
pires, bijuterias, moletom e meia-calça. Não há roupa certa para a ocasião. Uma
delas chora escondida. Chora internamente. As lágrimas surgem por detrás do
globo ocular e queimam os vasos sanguíneos até as narinas, passando pelas
papilas para soar o salgado gosto da derrota e tomam as tranqueias para
expelirem-se em gás pelos pulmões.
Então a gente se reveza, amanhã venho
depois das três porque termino as coisas até meio-dia, deixo o almoço pra janta
pronta, passo no banco e venho. Você precisa descansar, Gordo.
Tudo bem. Eu não vou negar, Mima. Eu
realmente preciso descansar mas aguento o tranco até amanhã. Uma tarde de sono
em casa, lugar que não volto há quinze dias, e depois pego umas roupas limpas e
volto aqui. Então fico pronto pra mais uns dias. Muito obrigado, vocês tem ajudado
muito.
Que isso, a gente é família. Estamos
pra se ajudar. Deixa eu lavar essa louça.
Cadê os meninos?
No quarto, rezando.
Que bonitinhos, Gordo pensou. As
crianças possuem a capacidade única de se envolver nas situações mais difíceis
e não se deixarem derrubar pelas fomes dessa vida. Ele, a Mima, Clóvis e Marta
mal conseguem o tempo para a igreja. A reza é na cabeça o tempo todo, mas
praticar o que precisa... nada disso vem.[...]
* *
Orações A Saturno é o templo da linguagem pragmática sem a moral do mundo que o perturba. É um alento. Algo que eclode. Não sei. Um out de si no tempo da palavra. É sábado, todo sábado. São rezas para deus-palavra. E isso é tudo apenas quando há - nada.

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