entra
tomou a mim
como se eu outrora eu já me fizera seu
agora, não
há o que lamentar.
a sua presença era
para os vizinhos de vida, aqueles que moram nas matérias próximas à gente.
sendo por décadas e anos, ou dias e minutos. porém, de alguma maneira
encontrava suas formas e meios para atingir a mim. quando vinha, vinha pesado e
sufocante. eu apenas bloqueava minhas narinas e bocas e tentava deixar limpa
minha respiração carbônica.
levou
vários, tirou muito
agora, busca
que eu me tire também
embora abominável em
dados momentos, sedutor em outro. é bonito vê-lo nas elegâncias das noites e
incrementando inteligências pelo mundo afora. esse seu poder de manipular a
imagem dos que o têm sempre me despontou. eu queria aquilo também. entre unhas,
entre batons, nos becos e nos bares, nos filmes e nas calçadas. um prazer
fálico e oral. se introduz e se escapa e nós carregamos suas manchas.
entra
me eleva, me
danifica
agora, me
empedra mas não solidifica
até que chegou a mim
nas brincadeiras das sextas e sábados de madrugada. tinha-me nos esconderijos
onde a culpa e a vergonha não chegam. causava-me calma esta poluição invasiva.
sua ponta brasil dizia em minutos que sua companhia é efêmera e se parece
distante, mas a medida que o consumo, vem a mim. no entanto, vem a mim em
matéria gasosa. em sopros pintados em elipses cinzas – fácil confundir com
ilusão. e se some com o sugar de minha boca que se amarga, se rejeita, mas quer
tanto seu pousar sobre meus lábios. então em ar toma a mim inteiro deixando no
meu corpo os traços de uma sinestesia que custa minha saúde. quando me sufoca,
eu lhe solto e tomamos o ar dançantes afirmando que a atmosfera é o que eu
sopro. por muito entra em mim de hora a hora. me reativa, me empalidece. me
aviva e me mata. procurar a sua perda é um desespero que o corpo evidencia em
agonia e frenetismo. não é de mim mas preciso tê-lo. rouba meus segundos fingindo dissipar os
cortes do espírito. mas a alma nunca cicatriza. mas é companhia. boa parceria
para as palavras que não sabem ser faladas.
é um trago,
um enfado
um poemaço
corrosivo
mas sutil
leva-me em
tudo quando sou fumaça
só não leva
meu peito
pelo verso
que ele abraça
* *
Orações A Saturno é o templo da linguagem pragmática sem a moral do mundo que o perturba. É um alento. Algo que eclode. Não sei. Um out de si no tempo da palavra. É sábado, todo sábado. São rezas para deus-palavra. E isso é tudo, quando não há nada.

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