Fio Dental, Cigarros e TragosColuna
Por LOPES, Marianna
Carioca, 23.
Escritora.
ENTRE LENÇÓIS.
Não era nada além de um prédio bem simpático de tijolos e trepadeiras secas. Um dos muitos que Seattle tinha neste estilo. Numa rua calma com alguns cafés e lojinhas. Mas a noite estava chegando. O expediente estava acabando e todos voltavam para suas casas. O centro da cidade não era mais tão interessante. A vida noturna tem destino certo. E ainda que tudo parecesse muito animado com tantas luzes reverberando a beleza singular da cidade, era meio sombrio passar por aqui após o anoitecer.
Conferi novamente o endereço para saber se estava no lugar certo. A porta de garagem de metal pintado de preto tinha uma portinha leve e menor no meio. Tropecei na hora de entrar, mas porque ainda não sabia se seguiria pelo corredor mal iluminado ou se sairia correndo.
Bati a porta e tranquei com a chave já deixada na fechadura.
As poucas luzes fluorescentes que piscavam me conduziam através de paredes cinzas e caixas de madeiras meio cobertas por um tecido de algodão fino e branco.
Outra porta.
Agora era mais convidativo. As paredes de vidro nos fundos mostravam um jardim decorado com flores um tanto coloridas, mesinhas e cadeiras de ferro. Um grande salão repleto de mais daquelas caixas, lâmpadas piscando, tubos pretos no alto, ao redor, e uma escada lateral. Com uma gravata pendurada no corre-mão gelado.
Ele estava lá.
Pus os pés degrau a degrau. Contando cautelosamente os passos até o andar de cima. Nada além de um sofá pelo que consegui ver de uma das pequenas salas sem portas. Ainda inacabadas, tijolos a mostra e massa branca. Meus passos me levaram, é claro, até onde tinha luz - ainda que pouquíssima, vinda de umas três ou quatro velas grudadas no chão - e parecia confiável.
De trás do sofá, de repente, surgiu um brilho que me deixou cega por alguns instantes. Mas aos poucos meus olhos conseguiriam distinguir as sombras que se formavam perto das janelas do chão ao teto.
Sentado numa cadeira de madeira de mogno ao lado de uma mesa quadrada, onde estava um projetor, perto de uma das saídas para a varanda, Richard vestia calça social e sapatos pretos. As pernas cruzadas.Os cabelos livres de todo o gel, caindo em ondas brilhosas, que dançavam na luz fraca. As mangas da camisa branca dobradas até os cotovelos pousados num dos braços da cadeira. Os botões abertos até a metade do peito. Os músculos se desenhando embaixo da camada de pelo.
Seus olhos escureceram aos encontrarem os meus. Mas novamente faiscavam dezenas de emoções confusas e avassaladoras.
- Pensei ter dito que não usasse nada. - disse - A menos que esteja nua debaixo desse sobretudo, vai sofrer as consequências.
Engoli em seco. Mas tentei não deixar transparecer que segui suas ordens sem questionar ou hesitar.
Ele apertou um botão num controle remoto, baixando uma tela de projeção na parede atrás de mim. Ligou uma música em algum lugar perto de nós.
- Dance para mim. - pediu.
Eu o encarei. Dei um sorriso meio jeito.
- Não sei dançar. - eu disse.
Ele me deu um daqueles sorrisos tortos que eu adorava.
- Feche os olhos... - ele disse.
Não me movi.
- Feche o olhos, Sugar. - repetiu.
Sua voz era calma, quase parte daquela música.
Fechei os olhos.
- Sinta as batidas. Deixe que tomem conta de você. Deixe que seu corpo responda ao chamado delas. - ele disse.
Lento. Lento. Lento. Rápido. Lento. Lento. Intenso.
O ritmo chega aos meus pés. Sobe como um sopro pelas minhas pernas. Aquece a parte interna das minhas coxas. Desperta as borboletas em minha barriga. Envia um calafrio através de minha espinha, endurece meus mamilos. Eriça meus pelos.
Não me dou conta de quando começo a mexer meus quadris. Mas já estou ali indo de um lado para o outro. Seguindo o que a música me diz. Subo as mãos desde os joelhos até poder sentir o calor em minha nuca. Solto meus cabelos.
Abro os olhos. Richard, agora relaxado no sofá, me encara com aquele olhos negros, dizendo tudo o que seu corpo me revela com a ereção saltando de suas braguilha aberta. Desfaço o nó do sobretudo. Ele se levanta e caminha na minha direção. Passa os dedos pela minha cintura e se coloca atrás de mim. Posso senti-lo duro contra a minha bunda e sua respiração alta em meu ouvido. A barba roça em meu pescoço, me dando arrepios. Seus lábios percorrem minha orelha, enquanto suas mãos afastam o sobretudo. Deixando-o cair no chão.
Vai me girando devagar até que nossos olhos possam se encontrar novamente. Chupa meu queixo, meu lábio e procura minha língua com a sua. Quente e voraz. Seus dedos brincam com as linhas da minha bunda, quadris, ombros.
Abro os botões restantes de sua camisa e tiro sua calça. Mas ele me impede de ir além da barra da cueca com o bordado Calvin Klein. Joga a calça e meu sobretudo para o lado e me convida para dançar com ele, usando as coxas, os braços firmes, o beijo suave e o pau pulsando atrás do tecido.
Me encosta na tela e me olha por um longo instante. Observando meus mamilos duros, os lábios secos procurando por mais, os pelos eriçados. Me coloca entre seus braços e me beija novamente. Apertando minha cintura. Leva os lábios até a parte quente e úmida entre as minhas pernas. Que latejava e doía a espera de sua atenção.
A ponta da língua sobe e desce no meu clitóris inchado. Coloca um, dois, três dedos para dentro de mim e mexe devagar procurando aquele ponto perfeito. Fecha os lábios ao redor da minha boceta e chupa com força. Sem parar. Não consigo mais conter os gritos. Mas só estamos nós, aquela sala cheia de caixas e a vista deslumbrante de Seattle do outro lado dos vidros das janelas. Entre nós não há espaço para pudores. Somos sujos, somos devassos. E, sim, é assim que eu gosto. Oh, sim... Como gosto! Como quero!
- Não pare... - sussurro de repente. Numa frase entrecortada que escapa pela minha garganta seca de desejo.
Ele investe com os dedos. Rápido e mais rápido. Com a boca, com a língua. Meus pensamentos se embaralham na minha cabeça. Mal consigo me lembrar onde estamos, como fomos parar ali e quem somos nós. Quem eu sou. Mas não me importava. Desde que eu fosse para ele. E com ele. E para ele. Assim. Do nosso jeito. Daquele jeito.
Me ergue facilmente em seus braços e me põe deitada no sofá. Aproxima o quadril do meu rosto e eu já sei o que ele quer. Me dar do meu gosto em seu pau tão duro e quente. Ele pulsa algumas vezes em minha língua, mas eu não o deixo ir. Minha boca o segura e o mantém ali. Gemendo, bagunçando meus cabelos. Perdendo o prumo.
Até que assume o controle novamente, afasta minhas pernas e mete de uma vez só bem lá naquele ponto maravilhoso. No fundo. No mais fundo. E não para até que me aperto contra seu pau, seu corpo escorregadio, e ele urra mais vez antes de gozar comigo. Larga seu corpo em cima do meu, ofegando. Planta beijinhos em meu pescoço e meus lábios. Até se deixar cair no chão.
Ficamos ali, suados, em silêncio. Entrelaça os dedos nos meus e eu me pergunto o que estamos fazendo. E pela primeira vez, a pergunta não se vai. Se demora ali e fica pairando no ar junto com nossos perfumes se misturando com o cheiro do sexo.
Até a próxima quarta.
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