FIO DENTAL, CIGARROS E TRAGOS
COLUNA.
POR Lopes, Marianna
Carioca, 23.
Escritora.
Quando
eu era criança, costumava rasgar revistas e rabiscar os livros. Pensando pelo
lado bom, poderiam ser as paredes BRANCAS de casa. “Ufa!”, minhas avós devem
ter pensado. Um belo dia, eu vi meu pai usando terno e gravata, sentado na
cozinha da minha casa, lendo um bloco de folhas grandes, de um papel duro e cor
engraçada, cheio de letrinhas pequenas e títulos grandes. Sim, era o jornal. Eu
achava as revistas mais interessantes por serem mais coloridas e sedosas. Achei
aquilo muito chic.
Apesar
da pouca convivência com meus pais, eu sempre fiquei admirada com o tamanho do
meu pai e a postura de magnata. Comecei a imitá-lo com aquele papel engraçado
nas mãos, apesar de não entender absolutamente coisa alguma do que estava nele.
Até que um dia, eu li. E descobrir o mundo através da leitura, poder olhar o
mundo a minha volta de outra forma foi uma das melhores coisas que já me
aconteceram nessa vida.
Devorei
todos os livros da estante de casa. Até a minigramática. Coitada de mim quanto
a isso, né? Mal sabia eu que inventariam no tal do Novo Acordo Ortográfico
depois de todo o trabalho que eu tive.
Os
livros sempre foram minha companhia. Não tinha muitos amigos, sofria bullying pelas roupas e pelo cabelo. Por
andar sempre de braço dado com minhas avós, gostar de viajar, adorar cinema e
literatura. Ficava ansiosa pela leitura em sala de aula e pela hora de fazer a
redação. Participei de concursos, só tirava dez e não tinha a menor dificuldade
em gostar das coisas relacionadas às línguas. Além do português, comecei a
aprender inglês e depois espanhol. Até o fim da vida, pretendo falar também
alemão, francês, italiano e quantas mais puder aprender.
Descobri
que um primo estudou cinema. Um dos primeiros filmes que assisti, depois de
todos aqueles clássicos desenhos da Disney, que toda criança tem que assistir,
foi “Um drink no inferno” do Quentin Tarantino. E além de acabar me apaixonando
por vampiros e outras coisas sobrenaturais, me apaixonei pelo Tarantino e todos
os seus filmes. Os filmes também ajudaram a dar asas à imaginação junto com os
livros. Eu era um misto de imagens, letras, sons e muita música. Cresci ouvindo
Black Music e outros ritmos dançantes. Morrendo de amores por Nova Orleans,
Aretha e Etta James. E até hoje, R&B, Jazz, Soul, Blues... embalam as vezes
em que começo uma obra nova. Desde um simples testinho até o mais complexo dos
romances.
Então
comecei a escrever roteiros de cinema. Meu primo leu alguns. Participou de uma
mostra de cinema com um documentário e eu já me imaginava ganhando o Oscar,
enquanto ele me contava como era o universo do cinema. Um belo dia, em pé na
cozinha da casa dela, minha mãe me perguntou por que eu não escrevia um livro. E
eu disse a ela que eu não tinha a menor das capacidades de escrever livros.
Mas,
“de repente, não mais que de repente”, eu, que tinha o meu mundinho, o meu
infinito particular, que eu não dividia nem abria para ninguém, para onde eu
fugia quando as luzes se apagavam ou quando eu colocava os fones de ouvido...
comecei a esboçar as primeiras linhas de uma história que eu gostaria de viver.
Eu, que me sentia um verdadeiro peixe fora d’água, tinha dificuldades de
adaptação... Não foi difícil me ver como um vampiro no meio na multidão e falar
da vontade de, um dia, viver um grande amor, como as outras pessoas, como nas
histórias que lia.
Alden
Blackerby surgiu na minha mente, nas linhas das frases de um documento em
branco no Word. Junto com Darin Kenrickson e tantos outros personagens de nome difícil.
Baseados em pessoas que eu conheci, conhecia e observava quando andava na rua,
durante minhas viagens, na escola. A história, ambientada na Inglaterra, o país
com o qual sempre sonhei, narrava a busca constante por aceitação de si mesma e
do resto do mundo. Contava dos anseios sobre o futuro e sobre um sentimento um
tanto forte, ainda desconhecido e complicado de lidar; o amor. Como alguém que
parecia nascida para o amor, que havia conquistado tantas coisas, que nutria um
carinho imenso pelas pessoas com quem convivia ao longo dos anos, tinha tantos
fantasmas, demônios. Falava de alguém bem-sucedido, como eu queria ser. Pensava
na grande mulher que eu queria me tornar. De um ser notório. De um ser que
despertava curiosidade, inveja e que, na hora mais escura, sempre se deixava
levar por seus inúmeros pensamentos e dúvidas.
Alden
não foi tão difícil de construir. Adolescentes são sempre muito intensos e
cheios de si. Ao mesmo tempo que são dramáticos e cheios de questionamentos. Bom,
pelo menos ao jovens da minha época tinham anseios, ambições, sonhos. O mundo
mudou muito desde que eu tinha 17 anos.
E
naquele mesmo ano... Eu vi as páginas de “Doce Veneno” se unindo, ganhando um rosto
e um assinatura depois do ponto final. Aos 17 anos, eu construí uma história
que nunca sonhara em escrever. Graças aos conselhos da minha mãe, em pé na
cozinha de sua casa, durante uma conversa num dia aleatório. Provando que ouvir
conselho de mãe surte bons efeitos.
Agora,
em 2016, seis anos depois do lançamento, a Editora Livros Ilimitados relançou a
obra. Eu vi tudo de novo, chorei tudo de novo. Vieram todas as lembranças das
noites que passei em claro e das horas que dedique, durante seis meses, a
escrever Alden e Darin em suas aventuras para viver seu amor. Lembrei-me,
também, dos rostos que duvidaram e riram. Dos desafios que cada um de nós
enfrenta para realizar seus sonhos. E me sinto um tanto privilegiada por todas
as coisas que a escrita me proporcionou. Graças à escrita, eu tive com quem
desabafar. Graças aos livros, eu tive companhia.
Fazer
Literatura é vencer preconceitos, superar os próprios limites, construir pontes
ao invés de muros. Levar a palavra, dizer as palavras por quem ainda não pode.
A Literatura liberta, revela, conforta, alegra, entristece. A Literatura está
em cada um e todos de todas as formas. Ainda que alguns ainda não a tenham
descoberto. A Literatura também faz parte dessa não descoberta e da eterna
busca. Do eterno aprendizado. Isto é Literatura.
Até
a próxima quarta.
PS:
Se você ficou curioso e quer saber mais sobre “Doce Veneno”, curta a fanpage (@doceveneno) no
Facebook e adquira já o seu.
- Livraria Cultura: http://www.livrariacultura.com.br/p/doce-veneno-46334166
- Livraria Folha: http://livraria.folha.com.br/…/doce-veneno-marianna-lopes-1…
- Ou pelo site da editora Livros Ilimitados:


pegando o assunto dos primeiros parágrafos, sua paixão por línguas, digo que vc poderia ter trabalhado servindo no restaurante da vila olímpica. eu gosto mto de idiomas tb. fiz questão de, em apenas 3 dias, aprender saudações básicas em 27 idiomas para poder prestigiar as delegações dos países. foi mto legal e aprendi tb q os idiomas têm mais em comum uns com os outros do q imaginamos. particularmente tive dificuldades com o ucraniano (q é o mais difícil dos idiomas eslavos), que tem um H que a gente nunca acerta a pronúncia, e com o finlandes (q inclusive possui uma estrutura fonética parecida com a japonesa, e até possuem palavras iguais, mas de significados diferentes).
ResponderExcluirConcordo muito que os idiomas tem muito em comum. Eu viajo muito e observo muito isso nas Minhas viagens. Tenho amigos de ponta a ponta no mundo e percebo algumas familiaridades. Que bom que vc pôde aproveitar.
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