Berlim, 19 de
maio de 1995
Olá querida Helena.
Hoje fazem dois
meses que já estou em Berlim, as coisas vão bem por aqui. Minha residência é em
um hospital grande, tenho trabalhado bastante e quase não tenho tido tempo para
me dedicar à outras coisas.
Meu visto para trabalhar aqui já saiu e Minha autorização nacional para atuar como
médico também.
Estou morrendo de saudades.
Beijos, Kawl.
Após ler a carta,
seu celular toca.
-Pronto?
-Hele minha
filha, até que enfim atendeu esse celular. Eu já estava ficando preocupada.
-Oi mamãe,
desculpe, eu estava arrumando algumas caixas e não ouvi o celular tocar. - Pega
a carta que estava em sua mão e coloca em baixo de seu travesseiro.
-Amanhã é o
aniversário da tia Zélia, ela fará 95 anos e nós iremos fazer uma festinha para
ela...
-Festa em plena
segunda? - Pega um pequeno papel de dentro da caixa, olha, amassa e joga-o
junto de outros papéis amassados.
-Sim minha filha,
você sabe que a gente nunca pode contar muito com o tempo quando se trata desse
povo mais velho. - Faz uma breve pausa. -E você sabe que não presta comemorar
antes, não é?
-Tá bem, assim
que eu sair do escritório passo lá. - Pega um cartão postal de dentro da caixa.
-Nós estamos
planejando cortarmos o bolo por volta das 7:00 pm, porque a tia vai dormir
super cedo. Vamos aguardar você chegar.
-Tá bem. - Admira
o postal recebido de New York.
-Beijos querida,
vou levar seu casaco que ficou aqui aquele dia.
-Tá bom mãe,
beijos. - Coloca o postal em cima da cama junto com outros postais. Desliga o
celular e também o coloca em cima da cama.
Ela pega mais alguns papéis de dentro
da caixa, olha, os amassa e joga na pilha de papéis amassados, à chaqualha de
ponta cabeça em busca de outros papéis, mas percebe que não há mais nada. Guarda
algumas cartas
novamente dentro dela, tampa e à guarda novamente em cima do guarda roupas.
Após sair do escritório, Helena vai em
direção a seu carro que está estacionado em uma rua lateral do prédio da
Brooks, um prédio alto, todo espelhado com um painel de lede gigante que
estampa
a edição de
setembro da revista.
Quando sai do
prédio, se mistura ao mar de pessoas que passam pela movimentada avenida, mas
logo dobra na ruazinha aonde está o seu carro. A rua está calma, ela anda
alguns passos e logo consegue o avistar.
Ela para diante
do carro e logo começa a vasculhar a sua bolsa em busca da chave que havia
esquecido de pegar antes de sair. Abre o ziper e logo sente alguém a abraçar
por trás.
-Passa a chave do
carro. - Diz em voz baixa perto do ouvido de Helena. Ela sente algo encostar em
seu quadril.
Com o susto, ela
tenta se desvencilhar dos braços do assaltante o empurrando para trás, mas
sente que algo perfura suas costas. Ela grita, o assaltante corre, ela cai.
Abre os olhos lentamente, escuta um
bipe que se repete de segundo em segundo. Olha para o lado e logo percebe sua
mãe vindo em sua direção.
-Minha filha,
graças a Deus, você acordou. - Se aproxima da cama juntando as mãos.
-Mãe? O que
aconteceu? - Questiona preocupada.
-Você sofreu uma
tentativa de assalto minha filha... O assaltante foi pego e disse que não tinha
a intenção de te machucar, mas que você acabou se ferindo quando tentou fugir.
-E a tia Zélia
mamãe? - Pergunta preocupada.
Quando sua mãe
vai responder, é interrompida com o médico que entra no quarto.
-Com licença,
Helena? - Pergunta olhando para ela.
-Isso, você é o
Dr. Mark, não é? - Responde a mãe de Helena indo em direção a ele.
-É... Na verdade
não, o Dr. Mark é meu amigo, ele irá passar por aqui em breve... Eu me chamo
Dr. Wistern. - Aperta a mão dela enquanto Helena os observa. -Ele teve um
contra-tempo e vai se atrasar um
pouco. Vim ver
como você está. - Fala olhando para Helena.
-Estou bem Dr. só
com um pouco de dor nas costas.
-Pois é, você
teve sorte, o corte passou bem perto do seu pulmão. Mas ainda bem que não
atingiu nada. Acredito que amanhã você já poderá ir para casa. - Fala olhando
para um raio-x.
Quando ele se
vira, Helena percebe o nome Kawl bordado em seu jaleco.
Eu me chamo Kawl Wistern, você é uma
moça muito bonita. - Lembra ela de quando era mais nova em um barzinho.
-Kawl? ... Você é
Kawl Wistern? - Pergunta ela desesperada.
-Sim, esse e meu
nome. - Responde ele assustado.
A mãe dela também
olha assustada. Helena tenta se levantar, mas sente uma forte dor nas costas.
-Eu sou a Helena,
aquela do barzinho, em 95. Lembra? Nós conversávamos através de cartas quando
você foi para Berlim. - Diz empolgada.
Desmancha o
sorriso e continua.
-Mas você parou
de me responder... Porque você parou de responder? Eu fiquei tão preocupada.
Nós fizemos planos de eu ir te encontrar em Berlim, mas nada deu certo... Eu
acreditei em você e você sumiu.
- Fala com a voz
embargada.
-Que história é
essa minha filha? Como assim ir embora pra Berlim? - Questiona a mãe
preocupada.
-Essa é uma longa
história mamãe, depois eu te explico tudo.
-Helena, as
coisas em Berlim eram muito complicadas. - Minha rotina de trabalho era muito
intensa, chegou um momento que ficou impossível continuar te escrevendo.
-E você
simplesmente me esqueceu? Da noite para o dia... - A mãe dela olha confusa.
Não, não foi tão
fácil assim, mas eu tinha outras prioridades, eu tinha que estudar e
trabalhar...
-Eu vou ao
banheiro, já volto. - Diz a mãe de Helena enquanto vai em direção a porta.
-E hoje? Como
estão as coisas?
-Eu voltei de
Berlim faz 1 ano, agora estou trabalhando nesse hospital... Eu conheci uma moça
antes de vir, nós namoramos durante algum tempo e logo ela engravidou... Hoje
nós estamos casados.
-Você está
casado... - Seus olhos enxem de lágrima. -Eu tranquei a faculdade, vendi meu
carro e sai do meu emprego para ir para Berlim te encontrar. A minha vida virou
de ponta-cabeça por sua causa e você
parou de me
responder porque não tinha tempo para mim. - Fala chorando.
A porta se abre, a mãe de Helena entra
e logo atrás dela um médico.
-Filha o Dr. Mark
chegou. - Ela entra no quarto e para diante da cama.
-Desculpem a
demora, eu estava em outro hospital em uma cirurgia de emergência. - Olha para
Helena que está secando as lágrimas. -Está tudo bem por aqui? - Olha para Kawl.
-Está sim Dr. ela
apresenta um quadro estável, só reclamou de um pouco de dor nas costas. - Um
bip toca em seu bolso.
Ele olha para o
aparelho.
-Desculpe, tenho
que ir. - Olha para Helena. -Helena, deixo você com o Dr. Mark, ele é um ótimo
médico, tenho certeza que está em boas mãos. Tudo de bom para você. - Sorri
para ela e vai em direção a porta.
-Muito obrigado
Dr. Wistern. - Se aproxima da cama. A mãe de Helena acompanha Kawl com os olhos
até ele sair.
-Que bom, está
tudo certo com seus exames. A faca passou bem perto do seu pulmão, mas você
teve sorte. - Sorri pra Helena. -Eu já vou te liberar, mas caso tenha qualquer
coisa volte para cá, ok?
-Que bom Dr. muito
obrigado. - Fala enquanto limpa a bochecha que ainda estava molhada.
Ela olha para o
rosto dele e seus olhos verdes prendem a sua atenção.
Um celular toca.
-Com licença, vou
ali fora atender. - Diz a mãe dela enquanto vai em direção da porta.
-Vou prescrever
alguns analgésicos caso sua dor persista. - Ele olha para o rosto de Helena.
-Você é uma moça muito bonita, sabia? - Sorri para ela.
-Obrigado. -
Sorri e desvia o olhar sem graça.
-Aqui estão as
receitas dos analgésicos caso você fique com dor. Passei um também caso tenha
febre. - Entrega as folhas para ela. -Já vou indo, preciso atender outro
paciente no andar de cima. Espero reencontra-la
logo, mas claro,
fora daqui. - Abre um largo sorriso. - Vai em direção a porta. -Abraços Srta.
Helena.
Ela abre as
receitas para ver quais os remédios ele havia passado, de dentro delas cai uma
folha menor.
Londres, 23 de setembro de 2005.
Tom Mark - 9832-92714.
Helena sorri.
(Davyd Vinicius)
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