quinta-feira, 27 de setembro de 2018

[Projeto Láquesis] Você outra vez - Davyd Vinicius





Berlim, 19 de maio de 1995
 Olá querida Helena.
Hoje fazem dois meses que já estou em Berlim, as coisas vão bem por aqui. Minha residência é em um hospital grande, tenho trabalhado bastante e quase não tenho tido tempo para me dedicar à outras coisas.
 Meu visto para trabalhar aqui já saiu e  Minha autorização nacional para atuar como médico também.
 Estou morrendo de saudades.
 Beijos, Kawl.

Após ler a carta, seu celular toca.
-Pronto?
-Hele minha filha, até que enfim atendeu esse celular. Eu já estava ficando preocupada.
-Oi mamãe, desculpe, eu estava arrumando algumas caixas e não ouvi o celular tocar. - Pega a carta que estava em sua mão e coloca em baixo de seu travesseiro.
-Amanhã é o aniversário da tia Zélia, ela fará 95 anos e nós iremos fazer uma festinha para ela...
-Festa em plena segunda? - Pega um pequeno papel de dentro da caixa, olha, amassa e joga-o junto de outros papéis amassados.
-Sim minha filha, você sabe que a gente nunca pode contar muito com o tempo quando se trata desse povo mais velho. - Faz uma breve pausa. -E você sabe que não presta comemorar antes, não é?
-Tá bem, assim que eu sair do escritório passo lá. - Pega um cartão postal de dentro da caixa.
-Nós estamos planejando cortarmos o bolo por volta das 7:00 pm, porque a tia vai dormir super cedo. Vamos aguardar você chegar.
-Tá bem. - Admira o postal recebido de New York.
-Beijos querida, vou levar seu casaco que ficou aqui aquele dia.
-Tá bom mãe, beijos. - Coloca o postal em cima da cama junto com outros postais. Desliga o celular e também o coloca em cima da cama.
        Ela pega mais alguns papéis de dentro da caixa, olha, os amassa e joga na pilha de papéis amassados, à chaqualha de ponta cabeça em busca de outros papéis, mas percebe que não há mais nada. Guarda
algumas cartas novamente dentro dela, tampa e à guarda novamente em cima do guarda roupas.

        Após sair do escritório, Helena vai em direção a seu carro que está estacionado em uma rua lateral do prédio da Brooks, um prédio alto, todo espelhado com um painel de lede gigante que estampa
a edição de setembro da revista.
Quando sai do prédio, se mistura ao mar de pessoas que passam pela movimentada avenida, mas logo dobra na ruazinha aonde está o seu carro. A rua está calma, ela anda alguns passos e logo consegue o avistar.
Ela para diante do carro e logo começa a vasculhar a sua bolsa em busca da chave que havia esquecido de pegar antes de sair. Abre o ziper e logo sente alguém a abraçar por trás.
-Passa a chave do carro. - Diz em voz baixa perto do ouvido de Helena. Ela sente algo encostar em seu quadril.
Com o susto, ela tenta se desvencilhar dos braços do assaltante o empurrando para trás, mas sente que algo perfura suas costas. Ela grita, o assaltante corre, ela cai.

        Abre os olhos lentamente, escuta um bipe que se repete de segundo em segundo. Olha para o lado e logo percebe sua mãe vindo em sua direção.
-Minha filha, graças a Deus, você acordou. - Se aproxima da cama juntando as mãos.
-Mãe? O que aconteceu? - Questiona preocupada.
-Você sofreu uma tentativa de assalto minha filha... O assaltante foi pego e disse que não tinha a intenção de te machucar, mas que você acabou se ferindo quando tentou fugir.
-E a tia Zélia mamãe? - Pergunta preocupada.
Quando sua mãe vai responder, é interrompida com o médico que entra no quarto.
-Com licença, Helena? - Pergunta olhando para ela.
-Isso, você é o Dr. Mark, não é? - Responde a mãe de Helena indo em direção a ele.
-É... Na verdade não, o Dr. Mark é meu amigo, ele irá passar por aqui em breve... Eu me chamo Dr. Wistern. - Aperta a mão dela enquanto Helena os observa. -Ele teve um contra-tempo e vai se atrasar um
pouco. Vim ver como você está. - Fala olhando para Helena.
-Estou bem Dr. só com um pouco de dor nas costas.
-Pois é, você teve sorte, o corte passou bem perto do seu pulmão. Mas ainda bem que não atingiu nada. Acredito que amanhã você já poderá ir para casa. - Fala olhando para um raio-x.
Quando ele se vira, Helena percebe o nome Kawl bordado em seu jaleco.
        Eu me chamo Kawl Wistern, você é uma moça muito bonita. - Lembra ela de quando era mais nova em um barzinho.
-Kawl? ... Você é Kawl Wistern? - Pergunta ela desesperada.
-Sim, esse e meu nome. - Responde ele assustado.
A mãe dela também olha assustada. Helena tenta se levantar, mas sente uma forte dor nas costas.
-Eu sou a Helena, aquela do barzinho, em 95. Lembra? Nós conversávamos através de cartas quando você foi para Berlim. - Diz empolgada.
Desmancha o sorriso e continua.
-Mas você parou de me responder... Porque você parou de responder? Eu fiquei tão preocupada. Nós fizemos planos de eu ir te encontrar em Berlim, mas nada deu certo... Eu acreditei em você e você sumiu.
- Fala com a voz embargada.
-Que história é essa minha filha? Como assim ir embora pra Berlim? - Questiona a mãe preocupada.
-Essa é uma longa história mamãe, depois eu te explico tudo.
-Helena, as coisas em Berlim eram muito complicadas. - Minha rotina de trabalho era muito intensa, chegou um momento que ficou impossível continuar te escrevendo.
-E você simplesmente me esqueceu? Da noite para o dia... - A mãe dela olha confusa.
Não, não foi tão fácil assim, mas eu tinha outras prioridades, eu tinha que estudar e trabalhar...
-Eu vou ao banheiro, já volto. - Diz a mãe de Helena enquanto vai em direção a porta.
-E hoje? Como estão as coisas?
-Eu voltei de Berlim faz 1 ano, agora estou trabalhando nesse hospital... Eu conheci uma moça antes de vir, nós namoramos durante algum tempo e logo ela engravidou... Hoje nós estamos casados.
-Você está casado... - Seus olhos enxem de lágrima. -Eu tranquei a faculdade, vendi meu carro e sai do meu emprego para ir para Berlim te encontrar. A minha vida virou de ponta-cabeça por sua causa e você
parou de me responder porque não tinha tempo para mim. - Fala chorando.
        A porta se abre, a mãe de Helena entra e logo atrás dela um médico.
-Filha o Dr. Mark chegou. - Ela entra no quarto e para diante da cama.
-Desculpem a demora, eu estava em outro hospital em uma cirurgia de emergência. - Olha para Helena que está secando as lágrimas. -Está tudo bem por aqui? - Olha para Kawl.
-Está sim Dr. ela apresenta um quadro estável, só reclamou de um pouco de dor nas costas. - Um bip toca em seu bolso.
Ele olha para o aparelho.
-Desculpe, tenho que ir. - Olha para Helena. -Helena, deixo você com o Dr. Mark, ele é um ótimo médico, tenho certeza que está em boas mãos. Tudo de bom para você. - Sorri para ela e vai em direção a porta.
-Muito obrigado Dr. Wistern. - Se aproxima da cama. A mãe de Helena acompanha Kawl com os olhos até ele sair.
-Que bom, está tudo certo com seus exames. A faca passou bem perto do seu pulmão, mas você teve sorte. - Sorri pra Helena. -Eu já vou te liberar, mas caso tenha qualquer coisa volte para cá, ok?
-Que bom Dr. muito obrigado. - Fala enquanto limpa a bochecha que ainda estava molhada.
Ela olha para o rosto dele e seus olhos verdes prendem a sua atenção.
Um celular toca.
-Com licença, vou ali fora atender. - Diz a mãe dela enquanto vai em direção da porta.
-Vou prescrever alguns analgésicos caso sua dor persista. - Ele olha para o rosto de Helena. -Você é uma moça muito bonita, sabia? - Sorri para ela.
-Obrigado. - Sorri e desvia o olhar sem graça.
-Aqui estão as receitas dos analgésicos caso você fique com dor. Passei um também caso tenha febre. - Entrega as folhas para ela. -Já vou indo, preciso atender outro paciente no andar de cima. Espero reencontra-la
logo, mas claro, fora daqui. - Abre um largo sorriso. - Vai em direção a porta. -Abraços Srta. Helena.
Ela abre as receitas para ver quais os remédios ele havia passado, de dentro delas cai uma folha menor.
 Londres, 23 de setembro de 2005.
  Tom Mark - 9832-92714.
Helena sorri.

(Davyd Vinicius)

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