domingo, 28 de janeiro de 2018

[2ª Estante] (Orações A Saturno - 25/03/17) 2/5 de coragem que me levam até onde posso - Edhson J. Brandão


2/5 de coragem que me levam até onde posso
José Ausente

ele é de libra com ascendente em leão, lua em virgem e eu não sei porra nenhuma do que isso significa mas o importante de tudo fica seguro no brilho de vela que o olhar dele se ascende quando o vejo.
é meio confuso, pra não dizer desnecessário, essa minha atração pelo cara mas a possibilidade de contar com o impossível e a certeza da ausência de horas entre a minha pele a dele excitam meu pau rubro que se estala em veias.
a gente se conhece de ônibus.
eu o conheço de ônibus; ele tira de mim um pouco do trajeto que compartilhamos – meu e de mais um milhão de batateiros e nordestinos do brasil todo – nesta lataria que sacode a rua da vida. ele é cafuçu: termo pejorativo que rola na rede social para caracterizar esses meninos héteros, fortinhos e com estilo bem periférico.
mas sabe,
percebo nele um quê de sensível porque já o vi pedir pra carregar a bolsa de uma loira de meia-idade e a voz dele soou tão, tão limpa.
eu sei onde mora e até quem namora.
vez e outra, quando nos cruzamos na linha durante o fim de semana, ele aparece abraçado a ela e eu fico enrijecido invejando o braço dele sobre aquele ombro vermelho dela. há uns tribais em seu braço, pega até o ombro e eu já medi aquela tattoo em mim, pelado, depois do banho. aquele desenho eu percorreria na língua. será que ela faz isso?
bonita também são suas axilas. ele apara os pelos então são pequenas penugens delicadas que despertam uma atração juvenil. tem também o caminho da felicidade, porquê não falar disto a esta altura já que estou me abrindo tanto; pelinhos finos e alinhados do umbigo e que penetram convidativamente pela cintura da calça que eu vejo quando segura nas barras do ônibus. segunda de manhã.
quando faz calor, vou dizer, é deleite para minhas mãos horas depois. ele desce, tira a camiseta e seu caminhar é felino; um molejo realçado pelas cochas grossas e aquele corpo parrudo de quem malha na vida.
não faço ideia do que sou pra ele, mas veja, ele está escrito e nem sabe.
eu não nasci ousado e isso deve ser por causa do meu signo ou da posição da minha vênus e me falta muito a coragem que outros tem para arriscar qualquer flerte. não arrisco, me fecho. sou pouco ou vazio para aqueles ombros.
não há dois quintos de coragem que me levam até onde posso.
vou vivendo.

*  *

Orações A Saturno é o templo da linguagem pragmática sem a moral do mundo que o perturba. É um alento. Algo que eclode. Não sei. Um out de si no tempo da palavra. É sábado, todo sábado. São rezas para deus-palavra. E isso é tudo, quando não há nada. 

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