Conceição Evaristo nasceu em 29 de dezembro de 1946 numa favela da zona sul de Belo Horizonte, Minas Gerais. Filha de uma lavadeira que, assim como Carolina Maria de Jesus, matinha um diário onde anotava as dificuldades de um cotidiano sofrido, Conceição cresceu rodeada por palavras. Teve que conciliar os estudos com o trabalho como empregada doméstica, até concluir o curso Normal, em 1971, já aos 25 anos.
Segunda de nove irmãos, a escritora, que completou 70 anos em novembro (2016), diz que na infância não viveu a pobreza, mas a própria miséria na favela do Pendura Saia, encravada no alto da Avenida Afonso Pena, área nobre de Belo Horizonte. Ali, da mãe e das tias, ouviu muitas histórias e inventou outras. A ficção era indispensável à sobrevivência, uma forma de sublimar a realidade. Essa experiência é o alimento da sua escrita ou, como ela afirma, da sua “escrevivência”.
Uma das principais expoentes da literatura Brasileira e Afro-brasileira atualmente, Conceição Evaristo tornou-se também uma escritora negra de projeção internacional, com livros traduzidos em outros idiomas. Publicou seu primeiro poema em 1990, no décimo terceiro volume dos Cadernos Negros, editado pelo grupo Quilombhoje, de São Paulo. Desde então, publicou diversos poemas e contos nos Cadernos, além de uma coletânea de poemas e dois romances.
A poeta traz em sua literatura profundas reflexões acerca das questões de raça e de gênero, com o objetivo claro de revelar a desigualdade velada em nossa sociedade, de recuperar uma memória sofrida da população afro-brasileira em toda sua riqueza e sua potencialidade de ação. É Uma mulher que tem cuidado de abrir espaços para outras mulheres negras se apresentarem no mundo da literatura.
Mulher, negra, de origem pobre. É desse lugar que Conceição fala, que Conceição escreveu e escreve seus livros. Da sua estreia em 2003 com “Ponciá vicêncio” (Ed. Maza), lançado nos Estados Unidos, na França e em breve no México, a “Olhos d’água” (Pallas), vencedor do Prêmio Jabuti na categoria Contos em 2015. Até chegar a “Histórias de leves enganos e parecenças”, reunião de contos recém-lançada que marca também a estreia da Editora Malê. Em todos os seus trabalhos estão presentes a crítica social e a religiosidade, que ela prefere chamar de ancestralidade. O mistério e o encantamento são os fios que ligam os contos de “Histórias de leves enganos...”.
— Eu sempre tenho dito que a minha condição de mulher negra marca a minha escrita, de forma consciente inclusive. Faço opção por esses temas, por escrever dessa forma. Isso me marca como cidadã e me marca como escritora também — diz Conceição. — Nos textos do livro novo eu trago toda uma memória ancestral, que já estava presente em “Ponciá vicêncio”.
Mariane Helena
0 comentários:
Postar um comentário