
Ah! Esse sentimento inaudível, incompreensivo muitas vezes confundido com os arroubos joviais dos amantes, enlaçador de qualquer um solto na vida, sem compromisso ou suscetível aos seus encantos, ah esse amor sempre pregando peças. Quando ele trabalha o faz com perfeição.
Já havia assistido a este filme há tempos, quando percebi a reincidência e
a beleza, então deixei, deixei rolar esta história onde as pessoas envolvidas
são meros seres preocupados consigo mesmos e à medida em que eles se descobrem,
deparam-se com sentimentos nunca antes libertados, aí vem à tona, o amor, puro
e verdadeiro. Mas como lidar com um sentimento que ao mesmo tempo que liberta da
promiscuidade lhe prende a um único ser? Ambiguidade, define bem o tal, o aclamado, o
citado, o dito em línguas, em frases, em casamentos e descasamentos, há nele um
limiar entre o sim e o não, o ser ou não.
Então quando esses seres dessa história, já desgastados dos dissabores e
completamente apavorados pela possibilidade da entrega total, quando eles
pensavam que eram os detentores do controle de suas vidas, são atropelados,
invadidos e tomados de amor. Neste momento há uma pausa. É um pensar profundo.
Um repensar insano.
Ele um homem acostumado a envolvimentos fáceis por sua envolvente beleza,
por seu farto charme, por suas palavras saírem tão bem de sua boca e
aterrissarem como plumas nos ouvidos carentes das mocinhas, afinal ele é um
vendedor nato, o qual vende não só os produtos a ele confiados, vende-se a si
mesmo na ânsia de conquistar pontos para seu ego machista, sem contar que a
venda fica por conta também de conseguir qualquer possibilidade de ascensão
profissional. Um colecionador de lençóis e peças intimas.
Ela uma mulher jovem totalmente vulnerável no quesito saúde, portadora da
Doença de Parkinson adquirida precocemente, vestida da carapaça mais torpe que
encontrou, passou a relacionamentos rápidos, gélidos e fugazes. Encontrou nesse
modo de vida a proteção contra si mesma, contra a entrega, contra o amor. Mesmo
sendo ela uma mulher linda, jovem e inteligente para ela mais nada tinha valor
apenas o momento.
Mas no caminho destas pessoas estava ele, o sentimento, o amor. Sendo
levado na mala de medicamentos que ele carregava oferecendo em consultórios,
cujos médicos estavam interessados apenas em trivialidades e acordos já
firmados, estava também na casa da jovem mulher sendo colocado em cada foto dos
anônimos os quais ela fotografava. E quando ele veio instalou-se nos corpos,
como vírus, como uma enfermidade.
Lá estava ele, o amor, envolvido mais uma vez com duas pessoas, lá estava
ele fazendo o seu papel de médico e medicamento, porque ele não passa de uma
droga.
Agora o ponha no sentido em que quiser que lhe cairá muito bem o significado.
Por: Ana Cristina.
0 comentários:
Postar um comentário