Como é linda minha casinha
Dentro do meu peito
Só ela sozinha
No alto do morro
Na alma do vento
Como é linda essa casinha
A carne e o osso das paredes
A minha grama mais verde
Do que a grama da casa vizinha
(Até porque só há uma casa
Sob o firmamento do meu corpo)
Minha casinha, tão linda
Toda branca, porta azul-marinha
Tudo que é mais belo lá dentro
Da minha mãe guardo um quadro
Do meu pai a vitrola e os discos
Todos os meus dias de criança
E meus desenhos encerrados
Em um cofre de ouro
Uma casa no alto do morro
Fundada em pedra-lembranças
As paredes grossas, janelas infinitas
Casinha onde o sol brilha morno
Na face norte, todos os dias
Porque ali é tudo sempre bom
Casinha boa
Sólida
Onde a fé
Ainda é
Intacta
E pacata
É a vida
Diamante sabiá que voa
Frio, livre e errante
Brilho duro inconteste
Do sol canônico em noa
No céu aberto do meu tempo
Da minha casinha contemplo
Esse pássaro estrela cadente
Irrelevante externo
Cortante inverno fora
Debaixo das costelas
A casinha bem abrigada
Dentro dela tépidaa madrugada
Fora a terra retesa, a pele congela
Na minha casinha
Tudo sempre em paz
Nela eu moro feliz
Nela eu morro feliz
GUILHERME PAES
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