quarta-feira, 1 de agosto de 2018

[4ª Poética] Desarvorado - Daniel

DESARVORADO 



Frequentemente venho a me perguntar
Se vale a pena viver
Se vale a pena escrever
Rir, amar, rimar existir
Labuta divina me guia me faz
Labuta onerosa, não sei o que contigo faço

Frequentemente esqueço de me perguntar
Se vale a pena qualquer coisa que seja
Quando estou a viver não tenho tempo de pensar
Quando não penso morro
Quando penso, montanha
Mas do que me adianta andar nas nuvens
Se da vida só ganho espanco
Sou um nefelibata manco
E um bionte anencéfalo

Frequentemente a minha mente age infrequente
Tenho direção, mas nenhum sentido
Voo para Urano, dou órbitas em volta do meu próprio umbigo
Não faço o que penso, não penso o que digo
Não digo bem o suficiente demonstrar o meu íntegro
E por isso escrevo tão pasmo
Cada verso é um espasmo
Sou arrastado todo malacabado
Sou um animal desanimado

Mas perante o porte deste reclamo
Não culpo minha sorte
Culpo só a minha laia
Porque o maldito algoz, o desgraçado filisteu
Da minha felicidade
Sempre acaba, enigmaticamente,
Sendo
Eu

Frequentemente me encontro em revelia
Mas não me importo, nunca segui nada
Sou o vento que abana a estrada
Sem nunca percorrê-la
Apenas namorá-la

Frequentemento falo tanto que não sei mais falar
Escrevo tanto que esqueço como escrever
E a tinta a figurativamente escorrer
Tece uma lágrima no figurativo papel dessagrado
Como a dizer:
“Tosco poeta, você fez tudo errado”
Mas eu sei mais que um mero borrão
Sei como o certo é um completo artifício
E o errado, um tétrico vício

Frequentemente boto fim nas coisas
Estou a por fim em várias agora
Sabendo já que todo fim é finito
E tecer tão impulsivamente um fim bonito
Acaba sendo puramente ritualístico
Mas isso não significa que quero fim simplístico
Porque ainda sendo eu seja pragmático
Adoro um enfadonho toque místico
Então por fim desejo à carcaça de todos nós
Inclusive deste dístico:
Um egrégio fim balístico
Direto para a boca do precipício.

DANIEL

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