Era eu prisioneira
do facínora, alguns corpos jaziam no chão. Sua fúria era implacável. Não havia
perdão.
Era uma casa
ampla com cômodos sem móveis, chão de tábua corrida. Era eu acuada num canto
horrorizada com a barbárie, e impiedosamente obrigada a assistir aos momentos
de horrores. Mas também era eu uma sobrevivente, um ser em busca de libertação,
embora houvesse mortes, embora não houvesse a mínima chance de sobrevivência,
era eu um ser em esperança, mesmo que a sobrevida após a exposição, após toda a
impressão no arquivo cerebral se concretizasse, mesmo que toda a lembrança do
que vi e ouvi vire o meu tormento diário, mesmo que eu não consiga mais dar um
passo para vida e que esta vegete num quadrado de concreto de lar ou de hotel,
mesmo que eu não consiga mais ter nenhum relacionamento amoroso e não consiga
mais dizer nenhuma palavra, fique muda, fique cega, fique louca, mesmo assim,
mesmo assim, eu quero sobreviver, porque o instinto de sobrevivência no ser
humano está intrinsecamente ligado ao fato de ele ser.
Era eu um
ser assustado e confuso e sem saber o que fazia eu ali, o que teria eu feito
àquele talvez ser, mas ele era um conhecido, era alguém com rosto e
proximidade, mas eu não o via. Havia uma porta e nela um pedacinho quebrado,
era um quadradinho de vidro quebrado onde eu pude ver lá fora e entendi o
sussurro em meu ouvido, oitenta palavras, - oitenta palavras? – perguntei. Então
gritei por aquela ínfima ligação que fazia entre os dois mundos, oitenta palavras!
Um homem mau vestido, um roto, deu as caras e era ele conhecido do algoz. Saímos
e entramos em um Jeep verde e novo, chorei porque ali eu vi o fim, mas não
entendi, as oitenta palavras.
Um sonho, é
um sonho, mas é um mundo à parte, onde a realidade daquele momento, daqueles
instantes nos remetem à reflexões, a pensamentos diversos, assim que acordamos.
Talvez eu esteja tão embriagada de notícias e tenha ficado abalado com as
últimas que meus arquivos tenham embaralhado algumas palavras e tenha
transformado este episódio em: Oitenta Palavras.
Ana@Cristina.
Filmes sobre
sonhos:
Vanilla Sky
Ladrão de Sonhos

0 comentários:
Postar um comentário